sábado, 29 de outubro de 2011




Olá ARTISTAS DO POVO

Em novembro estará sendo lançado mais uma edição do jornal comunitário A VOZ DO GUETO. Estamos sem recursos financeiros para promover a circulação impressa do material, mas estamos articulando e buscando parceiros e parceiras para apoio na preservação da iniciativa: promover um canal de comunicação de caráter popular voltado à difusão cultural, artística e política apartidária, tendo como principio a circulação de informação nos âmbitos populares contribuindo para superação de desigualdades no acesso de bens culturais.

Na campanha para publicação anterior, conseguimos um pequeno apoio de alguns amigos e amigas, no qual direcionamos para impressão de alguns exemplares para alguns colegas, amigos e amigas que não estão inclusos na rede virtual, e necessitam da impressão para conhecer as expressões de outros e outras artistas do povo.

O jornal possui um blog com os materiais das edições publicadas: participe comentando sobre o material, deixando seu contato para que os autores possam retornar. Para acessar, entre o endereço: http:\\avozdogueto.blogspot.com. Também criamos um perfil em uma ferramenta de rede social, bastante usada atualmente, o Facebook, para acessá-lo entre no link: http://www.facebook.com/avozdogueto?sk=wall.

Estamos recebendo materiais para composição da 5º edição, que estará sendo divulgada em novembro de 2011.  Viemos através desta publicação virtual, buscar parcerias para continuidade desta iniciativa.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ilustres Desconhecidos do Saber Popular - Léo Lopes

Meu avô faleceu esta madrugada...
É louco pensar sobre a sina de cada qual.
A dor que é bagagem única do acervo existencial de cada um...
Meu avô faleceu esta madrugada...
Cego, uma perna paralítica, se alimentando por meio de uma sonda, sem prazer algum, nem mesmo de cantar.
Aliás sua nobre arte!
Era portador de uma das vozes mais bonitas que já ouvi.
Meu avô faleceu esta madrugada...
Partiu um dos ilustres desconhecidos do saber popular.
Sebastião Claúdio da Silva: um dos grandes cantadores de moda de viola que animavam as festas das roças de cana de açúcar, de algodão e laranja do interior paulista nas décadas de 40/50/60.
Meu avô faleceu esta madrugada...
Calou sua viola, sua gaita, sua voz e cavaquinho quando já nos idos de 80 faleceu, o seu pareia de cantoria, meu tio avô Augusto Lopes, cantador de moda e tocador de sanfona. Depois que veio
morar com agente, as vezes na solidão da madrugada eu pegava ele lembrando versos, quadras, cantarolando..."a mulher do Jangadeiro, é jangadeira tamem... Ela luta cum a vida pra trazê cumida, prus fio que tem"...
"Eu não sou marinheiro de primeira viagem,
Eu não sou trem cargueiro que carrega carruage"...
Meu avô faleceu esta madrugada...
Mas não gostava de ensinar, depois da cegueira perdeu o sentido da vida, sistemático, pra aprender alguma coisa só uma vez, de ouvido e sem ele perceber que tinha alguem ouvindo, percebendo já parava logo.
Meu avô faleceu esta madrugada...
Ficaram as boas lembranças, das suas sempre aconchegantes casas (como todo pobre que sai da roça pra ir pra periferia das cidades, viveu em muitas). Sempre perto de alguma lagoa, onde adorava nos ensinar a nadar. Entrava sempre primeiro, vasculhava o fundo e anunciava onde estavam, caso houvessem buracos, marcava os limites e depois liberava a netaiada pra brincar.
As vezes ficava tocando sua gaita e nos observando.
"Que tempo bom, que não volta nunca mais"...

vivemos, logo sentimos de Mariana Maia

********************************************** 09/06/2011

parece tensão, mas já dura dias...
parece insegurança
parece desamor
excesso de amor
parece doença da alma

mas meu coração dói, dói muito
cada dia mais
cada instante sem reservas

dói pelo meu amor que não chega
de medo do mundo
de compaixão aos miseráveis
dói por minha imobilidade
dói de frio
de chuva também

minha alma sente a perda de amigos
de entes que já partiram
minha alma machuca com o gozo que sai de mim
toda ela comporta o mundo,
mas meu corpo não suporta

não suporto o peso da minha alma.


********************************************** 05/06/2011

Na diferença se conhece o outro nela se sofre, respeita e silencia.
Isso se chama alteridade.
Na semelhança se ama, identifica-se, se é feliz e se une.
Enquanto humanos vivemos contraditoriamente ambas situações, lutamos interna e externamente contra nós e o outro.
Ora se silencia, ora se une.

Agora ofereço meu silêncio
e exaustivamente procuro o que me une.

BATUQUE de Carla Natureza

Bate no baque do batuque
a batida do coração
na pele pelada do tambor
elevo minha vocação

peço força ao Deus negro
e também a proteção
Pra viver nesse Brasil
sem a discriminação

vou lutando com mandinga
Resgatando a tradição
de um povo africano
que compôs essa nação

nação que canta e dança
luta com a própria mão
mão forte e calejada
que estende ao seu irmão

salve salve camará
essa é minh' opinião...

Bosqueto de Jota Miranda



torrões auriverdes

Eis que fui ter comigo e me apercebi aos torrões d'aço sorrateiramente postos aos meus pulsos, como quem, em delírio, roga favores na turva desconhecida, por comedimento ou moralidade.
No entanto, quando me ative em mim mais que nada, notei outro torrão, que outrora até me foi leve mas que hoje me retém pressão atmosférica de uns cinco céus em aleivosia, com pecados públicos, e oceanos densos e negros acondicionados em barris impudicos: uma tal de responsabilidade.
Mas eu não pedi nem pra nascer!




telescópios sofisticados perscrutam o céu

Telescópios sofisticadíssimos perscrutam a vida alheia.
Telescópios sapientes varrem as mentes cósmicas da gen-tê.
E se me permite quebrar novamente a métrica dormente
Eis que lhe sobra o protocolo meu da gente, eu, telescópio pungente.


AINDA RESTA INFINDA ESPERANÇA

Num tom melancólico e despercebido, quase num solilóquio, esbraveja a chuva denegrida em abafados rumores de desdém.
Essa chuva que varre o planeta carrega tristes os olhos, confusa e inimaginavelmente diluidos em água.
Trás consigo o desamor com que regamos uns aos outros, tal qual pesticidas em plantações de pé-de-que. A quem queremos destruir?
Mas a chuva é sábia e mais que triste. Sugere a algarvia um mergulho, profundo, em suas brandas águas, das mais diversas.
- vamos numa viagem ao fundo do meu infindo oceano d'águas. Precisamos todos, afinal, dum esquecimento dest'mundo.



descompassada gira a terra

sada a terra gira descompas
ssada a terra gira descompa
assada a terra gira descomp
passada a terra gira descom
mpassada a terra gira desco
ompassada a terra gira desc
compassada a terra gira des
scompassada a terra gira de
escompassada a terra gira d
descompassada gira a terra.




no quê tropeço e no esse ataco

Que desacata a gente, que é revelia.
Que à revelia nos julga, e nós na surdez a catar
Catar num copo de bebida vida vazia, turva rebeldia

Donde desfecha e desfila, rebelde desconhecida?!
Donde se fecha e revida, vivaz quão descomedida?!

Eis que feliz se faz e esmorece cá no poema-pílula
A antes irresoluta e trôpega alma, que em derredor
Se encontrou decidida, categórica e necessária.


Pequenos percepções de Érica Giesbrecht

Entre chuvas, bodhráns, batatas, Guiness, católicos, protestantes e o inglês temperado com pouco sal dos nossos queridos Nothen Irishes, nós do Urucungos nos deliciamos com a hospitalidade e a gentileza daquela terra.
Um ar limpo, fresco e muito úmido cerca tudo. Um pais verde, verde, verde (as folhas das árvores, seus troncos, suas raízes, a cerca, a calçada...) afinal de contas a chuva não dá uma trégua. O escândalo das flores pra todos os cantos. Transito civilizado, ruas limpas (menos nos fins de semana, quando a galera chapa o coco e larga garrafas, comida e amigos vomitando na calçada), caixa eletrônico exposto no meio da rua.
Gente ruiva e loira, de pele muito branca, de olhos azuis, admirando nossos olhos castanhos e negros. Meninas aproveitando a "primavera", pra colocar sainhas curtas e ir dançar nos night clubs. O jeito de andar é inconfundível: como se algo empurrasse suas costas pra frente, braços balançando, pernas marchando e nada de molejo. Será que a chuva acelerou o passo das irlandesas?
Muita gente via brasileiros pela primeira vez: pensem, num pais marcado por um conflito civil por séculos, vamos concordar que não se trata de um destino turístico muito atrativo, certo? Não há muitos estrangeiros em Belfast. Quem seria louco de visitar ou ir morar num pais em guerra? Não há uma "Avenue des Champs-Élysées" como em ParIs ou um "Convent Garden Square" como em Londres, onde se concentram as melhores marcas do mundo (Prada, Yves Saint Laurent, Dolce & Gabbana, etc). Quem seria louco de investir num prédio ou numa loja luxuosa sob o risco de tudo ir pelos ares?




Belfast, com 300 mil habitantes (menos gente do que em Franca - SP) mal parece uma capital européia. Um museu e um teatro de ópera acabam de ser reabertos depois de reformas. Há apenas um multiplex e um teatro para concertos. O risco de atentados fez baixarem uma lei proibindo aglomerações. Passados dez anos, a cidade começa a se reconstruir e respirar.
Mas então o que há de tão encantador lá? Vamos começar com os pubs históricos, como o The Crown ou o Duke of York. Próximos ao Hotel Europa - que por muitos anos hospedou embaixadores e figuras importantes sendo por isso um alvo para os ataques do IRA - guardam uma atmosfera, de história de lutas, de desejos pelos direitos e pela liberdade. Foram reconstruídos várias vezes e é louco pensar que ali beberam católicos enquanto planejavam sua libertação.


Tem também o Mercado Saint George. Um dos meus lugares preferidos. Talvez o canto mais cosmopolita da provinciana Belfast. Comida e temperos da China, Índia, França, Itália, Paquistão, Grécia e, é claro, produtores rurais da Irlanda do Norte.
Essa cidade também jorra música celta. Legado cultural proibido durante os anos do conflito (The troubled years) agora passa a ser reapropriado por Irlandeses católicos ou protestantes. Como uma herança do povo irlandês, agora não mais coisa de católico, passa a ser ensinada das escolas, soa nos pubs, nas feiras livres, nos concertos públicos.
Assim como a música, as crianças da Irlanda, em seus lindos uniformes que lembram os meninos do Harry Potter, passaram a aprender a língua e o sapateado irlandês na escola.
Poderia divagar em percepções por muito mais tempo, mas creio que por ora o leitor já esteja querendo ler outras matérias, já esteja satisfeito do gostinho da Irlanda do Norte.
Slán agaibh
(adeus pra quem fica)

UMA CARTA AOS AMIGOS ... de Nil Sena

SALVE A TODOS E SALVE AS ALMAS''como diz os preto velhos''. Chegamos muito bem aqui na Irlanda e estamos todos bem felizes, nunca vi tão bela arquitetura e tantas flores, sem falar nas figuras cinematográficas com seus cinematográficos nomes ''ingreine, ashland, gordon, etc''', logo que chegamos em Dublin (Irlanda do Sul) fomos apanhados pela Suzel, (a pesquisadora que nos convidou) para chegarmos à esta Irlanda onde estamos que è a do Norte, cuja capital è Belfast (onde me encontro agora escrevendo, num apartamento na mesma rua da Queens University, onde ministraremos oficinas na próxima semana) no trajeto a Suzel foi nos mostrar um monumento dentro de um cemitério também monumental, é uma obra dos povos celtas que viveram aquí e guerreavam com os Vikings , é uma cruz de pedra, com cerca de 3m de altura e que foi construída no ano de 800(É ISSO MESMO, OITOCENTOS) aliás lá também tem uma torre de pedra também altíssima, 20m de altura e uns tantos de diâmetro, esta torre é onde os celtas se abrigavam para esconderem-se dos Vikings.
Maninhas e maninhos do MARACATUCÀ já troquei ideias com uns manos do maracatú daqui, um cara vestia a camiseta da NACAO PORTO RICO''pode''??
Eles não têm a dança ainda e ficaram felizes porque eu ensinei alguns passos básicos pra eles, Glória e Newtao, os manos tocam pra caraca, já receberam o mestre Chacom, mestre Afonso e o pessoal da Chambá e agora o Maracatú Cambinda Velha com a gente, ''saíram na frente, olha aí''. Poxa o pessoal daqui é muito educado e eu fico até com vergonha quando converso com eles, ''exercitando my little english'' eles sorriem sempre e parece que querem tocar em mim pra ver se sou de verdade, já fiz amizade com a galera da ''SANTA MARIA'' e hoje à noite sairemos pra balada e vamos a um show de uns caras que tocam o ''boran'' (o pandeirão irlandês, cujo nome nem sei se escreve-se assim), este instrumento também é de origem Celta e o show é de música celta.
Toshiro, já falei que meu mestre tosh me deu a incumbência de levar um pandeirão desses pra ele e acho que vai rolar viu, se aveche não meu bichim!!
Pessoal, todos vocês que estão lendo este email, quero que saibam que estão todos aqui comigo, no astral e no meu coração, estou escrevendo uma mensagem só, por causa do tempo, mas as notícias são as mesmas para todos e assim também é a minha consideração por todos e por lembrar-me de vocês é que estou escrevendo, já fizemos muitas fotos e assim que as descarregar postarei as mesmas no meu facebook ok??
Gente um pouquinho de cultura inútil ou não!
''QUANDO FUI Á NICARÁGUA. CHEGUEI LÁ, TROQUEI MEU DINHEIRO, PENSEI QUE ESTAVA MILIONÁRIA E NUM INSTANTE ESTAVA INFLACIONADAMENTE POBRE E REGRANDO A GRANA, AQUÍ, CHEGUEI, NEM TROQUEI O MEU POUQUÍSSIMO DINHEIRO, TENHO CONSCIÊNCIA DA MINHA POBREZA FINANCEIRA MAS JÁ COMI SALMÃO COM ASPARGOS E CHAMPIGNON, TOMEI MUITO VINHO BOM E SUQUINHO DE MACA E NAO PAGUEI NADA, SÓ NA CORTESIA GRINGA PARA COM A NEGUINHA AQUI'' me permitam a metideza??''' (rsrs)..., ainda não ví ninguém abandonado nas ruas, nem pedindo esmolas, nem à mercè do estado neste sentido e só posso dizer que isso parece muuuuito bacana.



Ó PESSOAL VOU PARANDO POR AQUI COM MUITA SAUDADE DOS MEUS FILHOTES, DA CECÍLIA, DO GATINHO JOÃO E DE TODOS VOCÊS, MAS COM MUITA ALEGRIA E GRATIDÃO PELO UNIVERSO SURPREENDENTE , MARAVILHOSO E ABUNDANTE EM GRAÇAS.
AS MESMAS GRAÇAS E BÊNÇÃOS EU DESEJO A TODOS POIS É O QUE TODOS MERECEM E CERTAMENTE O UNIVERSO ESTÁ IMPACIENTE PARA ENTREGAR-LHES.
AxÉ DE YANSA A TODAS E TODOS.

cansaço ... de Gabriela Pardim

anta coisa acontecendo, e eu aqui
Pois é, quanto aconteceu e eu vivi

Pior é que...
Quanta coisa aconteceu
Eu vivi e nem senti

Melhor seria
Ter pensado menos
Ter vivido mais
Agora não estaria preocupada com o que vai acontecer

Seja na segunda, sexta ou domingo
Até no sábado
Ah! No sábado começa cedo e termina tarde

O que?
O que acontecerá

Quando irei mudar a ordem dos fatores
Meu relógio não ter futuro
Meu andar não ter destino

Melhor será quando poderei organizar meu dia
Não gastar meu repertório
Não viver preocupada
A ponto de não saber por onde começar
Com tão pouca coisa para fazer
E tantos sonhos para idealizar

Pois é
Quanta coisa acontecendo e eu aqui
Preocupada com o que está acontecendo
Não vivendo
Achando que estou sobrevivendo
Da brisa,
Do ar gelado
Do vento parado

Este barulho que me incomoda
Não te incomoda

Na verdade,
Só me faz pensar
Quantos tambores estão batendo
E eu aqui sentada, sentindo o tempo passar
Não podendo andar
Não podendo bailar
Sobrevivendo do conhecimento que um dia acaba
Ou cansa.

Ribeiro O PROGRESSISTA, de Ana Raietparvar - Ilustração: João da Silva



Aprendizagens de Guiné Bissau! de Júnia Bertolino¹ (Fotografias: Pedro Zorzall e Júnia Bertolino)

A questão lingüística é muito importante para cultura e formação do legado da população de qualquer país. Por isto, foi importante a experiência da escuta e aprendizagem da língua natal deste país com desafios nas similaridades e diferenças. Na verdade são "Manga di cusas" (muitas coisas -- em criolo) língua falada em Guiné Bissau além do português, aliás, muitos não falam, pois mais de 70% falam criolo. Aqui tem muito peixe! Bionda di Bissau sabi (a comida de Bissau saborosa - em criolo).
Odete Semedo, defendeu o mestrado em 2010 e lançou um livro lançado que apresenta a cultura guineense, a partir da riqueza da oralidade, ou seja a narrativa africana. Ainda ressalta os conceitos de ancestralidade e memória, outros saberes e a importância da cultura a partir da narrativa, do canto, ritmo, dança e vestimenta das mulheres Manjuandades que traz nos tecidos a poesia e a contação de história. Sendo que a comunidade ganha a vida com a tecelagem, os panos e a arte das cabaças. Em Guiné, os grupos culturais como Balé Nacional de Guiné Bissau, Ubuto, Netos de Bandim e Grupo do Teatro do Oprimido contribuiu no meu aprendizagem sobre a riqueza da cultura africana.
Madiagne Diallo (responsável pela Delegação Brasileira no III Fesman) providenciou as instalações no Senegal e ajudou muito na minha permanência em Senegal após o festival e a viagem para Guiné Bissau, assim como Maria Elisa Teófilo de Luna (embaixadora do Brasil no Senegal).
Guiné Bissau é um país de rica tradição cultural representada em tecidos, pesca, instrumentos musicais, vegetais, músicas, religiosidade, artesanato e danças com várias etnias vivenciando a diversidade cultural africana. Sendo um país de língua portuguesa assim como o Brasil, gostam muito do ritmo samba e da cultura brasileira. Para chegar ao ensaio do Grupo Cultural Netos de Bandim em Guiné Bissau em 2011, contei com contribuição preciosa dos amigos Atcho Express (grande ator) com diversos trabalhos na cidade e Wilson (percussionista do Balé Nacional de Guiné Bissau). O incentivo de artistas da cidade como Dina Adão do espaço Hotel Rubim (local que ocorreu a oficina) e a pesquisadora Odete Semedo, aconteciam um intercâmbio Brasil e África. Participaram quatro integrantes do Grupo Cultural Netos de Bandim, foi um privilégio contar também com a participação de outros artistas que atuam no Balé Nacional de Guiné Bissau e Grupo Ubuto. Mas tarde, fui convidada pelos jovens da comunidade de Bandim para assistir o ensaio do grupo. Lá em contato com o coordenador do grupo Ector Diógenes conheci a vasta cultura guineense. Ver maravilhada as crianças e jovens representar e vivenciar a arte negra, em penteados, vestimentas, cantos, ritmos e danças.
O Grupo Cultural Netos de Bandim vem ganhando por seis anos o título de melhor grupo cultural do carnaval guineense. Este grupo apresenta nas ruas de Guiné Bissau as etnias Felupe, Fula, Manjaca e Bijagó. Além de danças como Kampune e Kabaró. Nesta comunidade também encontramos as Mulheres Manjuandades com sua cultura peculiar da Dina (cabaça) tocada dentro de uma bacia com água. Acompanhada com diversos instrumentos como xiquerês, atabaques e as madeiras nas mãos das mulheres que tocam, cantam e revezam na dança. A cultura da Dina abriga uma tradição ancestral. Além dos cantos e tecidos que estão traduzindo a história daquela etnia, valores do povo guineense, apresentando diversidade de ritmos. Essa comunidade é localizada em um bairro chamado Bandim que deu origem ao nome do grupo em Guiné Bissau. Portanto, participar do aprendizagem de Guiné Bissau é enriquecedor para trajetória da Cia Baobá de Dança - Minas, fortalecendo assim os laços identitários Brasil e África.



[1] Júnia Bertolino é bailarina afro, jornalista e antropóloga, pós-graduanda em Estudos Africanos. Capoerista da Associação Cultural Eu Sou Angoleiro. Corista e dançarina do Coral Agbára - Vozes da África (BH/MG). Diretora e coreógrafa da Companhia Baobá de Dança. baoba.danca@gmail.com

O MACRAMÊ E UMA ANDORINHA de Gabriela Pardim

Entrevistada: Rosângela Ampúdia


A VOZ DO GUETO: Com quem você aprendeu o macramê?
Andorinha: Meu pai que me criou, na verdade o meu avô materno. Na família era chamado de vô Brito, mas eu quando precisava me referir a ele, dizia pai Brito. Foi ele que me ensinou o macramê.

A VOZ DO GUETO: Você se recorda dos momentos que passou com ele?
Andorinha: Na casa em que eu fui criada... a nossa casa. Éramos eu, ele e a mãe Maria. Tinha uma varanda muito gostosa. E tinha assim um pilar, sabe? Ele amarrava as sacolas em pé. Eu tenho procurado por um primo que tem fotos dele amarrando-as, mas nem tenho conseguido... mas enfim... ele amarrava essas sacolas, que ele aprendeu com a mãe dele. Em Minas.

A VOZ DO GUETO:Como era o dia-a-dia com vô Brito?
Andorinha: Ele contava que tinha um tio que tinha uma vendinha, e ele trabalhava nessa vendinha, desde ainda menino. Enquanto ele amarrava a sacola... então... ele fez um balanço pra mim... que ficava perto desse pilar que ele amarrava. Perto tinha o tanque ... de manha era tão gostoso... porque enquanto ele amarrava, eu balançava ... e minha mãe estava muitas vezes no tanque... tinha um quarador em casa... que ela cuidava com carinho... ela gostava de quarar asroupas brancas...

A VOZ DO GUETO: Como aprendeu a fazer as sacolinhas?
Andorinha: Eu aprendi naturalmente, sem sofrimento. Foi engraçado porque na escola quando já na adolescência, eu estudei numa escola, Instituto de Educação de Assis, e era um sistema pluricurricular. Tinha uma cozinha e tinha um salão pra artesanato e uma oficinas para meninos. Eu optava sempre pro artesanato e para a oficina (rsrs). Quando a professora levou aulas de macramê... levou a sacola que ela aprendeu com meu pai.

A VOZ DO GUETO:Então, você se saiu muito bem nessas aulas de sacolinhas de macramê?
Andorinha: Ela ia enrolar muitas aulas nisso, e eu entao saquei a dela e ensinei pro pessoal e ate fiz pra quem não conseguia fazer... porque fiquei chateada com ela por não ter falado que aprendeu com vô Brito, dizendo que tinha aprendido com a vó dela. Mas nem quero mais falar sobre isso.

A VOZ DO GUETO: Alguém mais da família sabe tear em macramê?
Andorinha: Vô Brito ensinou pra um filho dele, o tio Zezé, mas isso bem antes de mim. Ele também fazia e presenteava como o meu pai. Incrível que esse meu tio fazia aniversário no mesmo dia que o meu pai: 3 de junho. Ambos falecidos. E eu fui a única pessoa que deu continuidade... depois de muito tempo... tô voltando a fazer as sacolas...

A VOZ DO GUETO: Você disse que as sacolas eram presentes?
Andorinha: Era uma fila de espera e era engraçado, porque ele presenteava as netas filhas e quando casavam era o presente mais pedido...

A VOZ DO GUETO: Como é para você, ensinar outras pessoas a fazer o macramê, em um tempo que é tão pouco valorizado o trabalho artesanal?
Andorinha: Olha, quando eu dei as oficinas dos Sescs... a maioria das pessoas que faziam era da terceira idade e vinham com muita saudade falar do macramé. Tinham sempre historias parecidas com a minha...algumas vinham pra relembrar o amarrio.Era assim que meu pai falava. É gratificante.

A VOZ DO GUETO: Tenho uma curiosidade. De onde surgiu o macramê?
Andorinha: O macramé tem origem no mar. Os marinheiros, começaram a amarrar para passar o tempo e criaram peças que acabaram sendo presentes para as mulheres que encontravam em terra.

A VOZ DO GUETO: Pelo o que você me contou, o macramê na sua vida vai além de um trabalho artesanal. Me parece um elo com seus ancestrais. Como é ter essa ancestralidade nas "pontas dos dedos"?
Andorinha: É uma energia interessante. Porque é como manter viva a imagem de pessoas queridas e também de momentos vividos. Eu sempre digo que foi a maior herança que meu pai me deixou. Enquanto algum filho discutia meus direitos legais, eu que ignorei esses direitos fiquei com a parte melhor dos seus bens.

A VOZ DO GUETO: Você pretende ensinar seus netos como vô Brito te ensinou?
Andorinha: Pretendo sim. O ponto básico eu ja ensinei para os meus filhos... mas por enquanto eles usaram para fazer bijouterias. A sacola mesmo ainda não consegui passar. Mas pretendo sim. Só não tenho certeza de qual deles dará essa continuidade... embora desconfie.

quarta-feira, 16 de março de 2011

PROTESTO CONTRA PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE CAMPINAS

A cidade de Campinas vem passando por uma fase difícil, onde a administração e o prefeito Hélio Santos, está com um projeto que privatização de gestão e de execução dos serviços municipais nas áreas da saúde, educação, cultura, esporte e lazer. Participe dos abaixo-assinados que solicitam que o projeto seja arquivado definitivamente, sem a criação de qualquer projeto substitutivo equivalente.


CARTILHA Patrimônio Cultural: Entenda e preserve: www.campinas.sp.gov.br/arquivos/cartilha.pdf
PETIÇÃO ONLINE: www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=plo2911

Memória - Léo Lopes

Eu gostaria de poder agarrar os retalhos do tempo que passa,
Da gente sem graça,
Das horas vazias, dos amigos,
Das farsas!
Sentado nos degraus deste ônibus lotado
Sorrio para os bancos que respondem:
-Não há vagas!
E no vidro das portas de entrada e saída
Vejo refletida minha face nua,
Crua e cansada.
Vejo passar carros, luzes e estradas...
Ao longe avisto a cidade.
Gostaria poder recortar,
Recontar e colar essa história,
E é na ponta da esfera que eu arrisco e faço
A gráfica colagem de lembranças,
De viagens, de histórias.
Um pedacinho de mim reside
Agora,
Aqui,
Aí,
Num cantinho qualquer
Da sua...
Memória.

Autobiografia de Mestre Zé-do-Lenço (Salvador/BA)



Entre as décadas de 1930 e 1940 chegou à Jaqueira do Carneiro, no Retiro (Salvador- Bahia), um senhor de nome Elizio Maximiano Ferreira, natural de Teixeira de Freitas - Bahia conhecido dentro da capoeira como Espinho Remoso, através da aproximação com Antonio Eloi dos Santos, Mestre Casarongongo, onde trabalhavam juntos na fazenda de cana de açúcar e treinavam capoeira em São José da Quimbaca onde morava Tiodé. No mesmo período surgiram os primeiro movimentos de capoeira na comunidade do Retiro, que era freqüentado por grandes capoeiristas como Mestre Valdemar da Pero Vaz, Zacarias Boa Morte, Gigantinho,Ferrugem e outros. Acontecendo aos domingos à tarde sendo o único lazer do bairro, mais precisamente em um barracão, onde durante os dias da semana funcionava uma escola. Desta escola surgiram muitos capoeiristas que eram alunos de Espinho Remoso, Loriano, João Catarino, Dario do Pandeiro, Barbosa da Boca do Rio, Buiu, Diogo, Florzinho, Florisvaldo, Moises, Valdomiro, Chico Zoião, Firmino, Valdir e Limão. Com o falecimento de Espinho Remoso em 1960 o bairro ficou sem o único lazer que a comunidade admirava.
José Alves, natural de Irará Bahia, chegando ao mesmo bairro em 1958, se aproximou do filho mais novo de Espinho Remoso chamado Raimundo e Valdir todos capoeiristas. Em 1962 José Alves inicia a capoeira com os filhos de Espinho Remoso, na Jaqueira do Carneiro sendo os treinos as quintas e sábados numa casa velha de senhor José do Vale, sem energia elétrica tendo que ser feito gato de uma casa para outra para acontecer o treino, que terminava sempre em pancadaria.
José Alves, o menos favorecido na capoeira, já tocava pandeiro e tinha um berimbau com cabaça de lata. A capoeira era discriminada por algumas pessoas do bairro, e nos dias de treino os filhos de Espinho Remoso iam buscar José Alves em casa por causa do berimbau e pandeiro.
Ao se aproximar a casa velha os moradores do local diziam:
- “Lá vem o mestre da bagunça. Ninguém vai ter sossego durante essas horas.”.
Daí em diante nós fomos crescendo e formamos uma reunião, e nesta reunião estavam presentes José Alves, Raimundo, Cecílio, Ubirajara, Ivo, Carlinho, Enoque e outros para escolher um líder e desse líder tinha que surgir um apelido.
No matadouro de boi do largo do Retiro tinha um cidadão que exercia sua função de trabalho magarefe, e era um bom violeiro e sambador chamado José do Lenço, José Alves era muito amigo dos seus filhos. A turma logo fez comparação e semelhança: “José Alves gingando parece seu Zé do lenço sambando.” Ai deram muita risada e passou a chamar José Alves de Zé do Lenço e logo após a comunidade passou a chamá-lo de Mestre Zé do Lenço.
Zé do Lenço foi apresentado ao Mestre Diogo através de Raimundo, pois Diogo era filho de criação de Espinho Remoso, que passou a dar orientação não só a Zé do Lenço como aos outros alunos. Daí surgiu a Relíquia Espinho Remoso.

Homenagem - Pqno*

*grupo RAP SOBREVIVENTES

Atacam pra aqui
Contra ataque pra lá
A luta continua
Não pode parar
Então, essa aqui
É a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade
Não pode se esquecer
Dos Quilombos e Mocambos
Foram de grande importância
Pra resistência do povo
Que estiveram lá lutando
Organizando com união
E aqui estão servindo
De fonte de inspiração
Entre eles vem Gangume
Oitizeiro, Subupira
Engana-Colomim
Morro Seco, Mandira
Da Carlota ou Do Piolho
E o grande Jabaquara
Lembrei Campo Grande
E também Capacaça
Dambrabanba, Porto Velho
Aboboral, Sapatú
Nossa Senhora dos Mares
Ambrósio, Turiaçú
Cafundó, Garanhus
Pedro Cubas de Clima
Um salve Angolajanga
Biguazinho, Catingas

Atacam pra aqui
Contra ataque pra lá
A luta continua
Não pode parar
Então, essa aqui
É a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade

Bombas, Maria Claudia
Veio aqui na memória
Andalaquituxe,
Osenga, Maria Rosa
Pilões, Praia Grande
Quiçamã e Gongoro
E lá no Rio de Janeiro
Quilombo de Manuel Congo
Aqualtune, Tabocas,
Poça, Ivaporunduva,
Buraco do Tatu
Em Goiás o do Calunga,
Quilombo de Preto Cosme
No norte do Maranhão
André Lopes, Amaro,
São Pedro, Galvão
Macaco, Trombeta,
João Surra e Una,
Quiloange, Acotirene,
Mocambo do Cabula
No Vale do Cricaré
Quilombo de Zacimba-Gaba
E aqui no do Ribeira
Jaó e Nhungara
Os nomes aqui citados
Hoje ainda representa
Motivos de orgulho
Marcas de resistência
E consciência
Essa é a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade

Atacam pra aqui
Contra ataque pra lá
A luta continua
Não pode parar
Então, essa aqui
É a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade

Todo dia é Dia do Índi@ - Márcia Cecilia Ribeiro dos Santos

O COTIDIANO DE QUEM RESISTE CONTRA A IMPOSIÇÃO DE UM MODO DE VIDA CAPITALISTA.












Mulher Indígena com a filha no colo, procura barrar a violenta tropa de choque em processo de desalojo de comunidade indígena na periferia de Manaus.



“Queremos mostrar, a todos aqueles que nos oprimem, (...) no Dia do Índio, queremos oferecer um pouco dos nossos valores a essa sociedade, que está despida dos valores espirituais e humanos. Esses valores vocês encontrarão na nossa forma simples de vivermos a vida”.

Marçal Tupã`Í, líder guarani
assassinado em 1983 por jagunços a mando de latifundiários em Mato Grosso do Sul. Os assassinos de Marçal permanecem em liberdade, pois foram vários momentos em que latifundiários locais recorreram para prorrogar o julgamento. Assim como o caso de Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe queimado vivo em Brasília em 2007, a justiça brasileira evidencia que realmente se encontra de olhos vendados ao descaso que a população nativa sofre cotidianamente para viverem suas vidas tradicionais.






Mês de abril à vista, considerado por muitos como o mês indígena, isto devido ao dia 19, conhecido como o Dia do Índio. Seria lindo se não fosse trágica a visão estúpida e preconceituosa que grande parte da nossa sociedade dita civilizada tem perante os nossos irmãos e irmãs, conhecedores de cada palmo da mata nativa que ainda perpetua de pé diante do desmatamento diário entre esses 500 anos.

Diferentemente do que prega um absurdo folclore inventado pelas mentes colonizadoras, não há nada o que se comemorar o dia do índio. Comemorar o quê? 511 anos de massacres, de racismo, de chacota, de desrespeito, de expulsão de suas terras ancestrais? E continuar perpetuando a falta do reconhecimento destes povos a muitos dos hábitos e costumes que a sociedade dita civilizada tomou pra si, como a sua gritante influência presente nas artes praticadas por nós? Será que os membros desta sociedade continuarão alienados pelos seus míseros poderes de consumo e pelas prepotências individualizantes que contaminam os valores das pessoas presentes na sociedade dita civilizada?
Muitos na atualidade afirmam ter alguma ancestralidade indígena por parte de suas mães, e afirmam com um certo orgulho a trágica história destas mulheres indígenas laçadas para servirem de escravas, de dia na casa e de noite na cama, constituindo assim diversas famílias a partir do estupro. Mentes colonizadas que não percebem que reproduzem, de alguma forma ou de outra, o mesmo mal praticado por bandeirantes destruidores de quilombos ao menosprezar seus irmãos e irmãs de luta, que sonham um mundo diferente deste que aí está – eis que surge o massacre das diversidades a partir de uma visão unilateral.

Poderíamos nós, membros desta sociedade tão opressora, descendentes afro-europeu-indígenas, aproveitar a data para refletirmos sobre nossos próprios atos diante de uma sociedade tão impregnada de maldade, resultante de 511 anos de violência e barbárie imposta aos nossos ancestrais, e assim buscarmos para nossa própria vivência – que se faz necessária! – a nossa busca da tão sonhada profecia guarani de uma Terra Sem Males.

Salve o Povo Guarani e Kaiowa!
Salve o Povo Terena!
Salve o Povo kaingang!
Salve o Povo Xucuru!
Salve o Povo Pataxó!
Salve o Povo Timbira!
Salve o Povo Karajá!
Salve o Povo Tapirapé!
Salve o Povo Javaé!
Salve o Povo Kaiapó!
Salve o Povo Ticuna!
Salve o Povo Mapuche!
Salve o Povo Quechua!
Salve o Povo Macuxi!
Salve o Povo Tupinambá!
Salve o Povo Sateré-Mawé!
Salve o Povo Wapichana!
Salve o Povo Yanomami!
Salve todos os Povos indígenas do continente americano que cotidianamente, há 511 anos, resistem ao padrão e aos valores de vida capitalista impostos a tod@s nós.

Marcos, Marcos e Marcos - Theila Assavac

Adentrou o ônibus e como de rotina sentiu-se diafanizada pelos olhares masculinos, respirou fundo arrebitou o nariz, nada como uma satisfação corriqueira do seu ego de Barbie. Rapidamente acondicionou suas nádegas na poltrona rente a janela. Ele pelo contrário, entrou despercebido, procurou a poltrona com o número correspondente ao bilhete que recém comprara e sentou-se ao lado dela, sem ao menos nota-la.
Ela muito irrequieta levantou-se, pediu as devidas licenças e dirigiu-se ao banheiro. Usava uma camiseta branca com uma estampa escrita DIREITO e o nome de uma dessas numerosas faculdades que vendem seus cursos por aí. E como sendo inevitável ele deu-se de frente com a estampa, e mais uma vez naquele dia lembrou-se de Marcos... em alguma de suas conversas Marcos disse que um dos seus dois tios ricos lhe pagaria um curso de direito na tal universidade. E como quase tudo era motivo para lembrar-se do amigo, foi mais além e lembrou-se dos olhos grandes e calmos com os quais Marcos fitava-lhe... e como era agradável e ao mesmo tempo nostálgica a lembrança...adormeceu.
E acordou sendo esbofeteado pela moça ao lado, pois adormecera babando e agarrado à mão da Barbie.
Muito tempo depois, passado os contratempos do constrangimento, enquanto relembrava os fatos, imaginou-se contato o ocorrido ao amigo, e novamente pensou nos olhos grandes e calmos fitando-lhe e rindo-lhe, e em seguida imaginou-se adormecido, babado e agarrado à mão do amigo, e por fim riu-se...

Mulheres do mar - Conceição de Periperi*

*Espectadora das mulheres marisqueiras que moram em Ilha de Maré e vem para a feira de Periperi, subúrbio de Salvador aos sábados, vender o que pescam durante a semana.





Negras mulheres do mar.
Vivem a marisca, vão para feira vender, o que o mar tem para lhes dar.
Acompanhadas pela Lua, sol, chuva ou sereno...
Na beira do mangue ou no meio do mar, encontram o sustento do lar.
Experientes senhoras, amanhecem com o dia...
E com seus produtos a ofertar.
Sentam em bancos de madeira...
Quando há aonde sentar.



Agrotóxicos - Ricardo Flóqui

Tempos Dificéis - Rosa Rothe

EXTRATO DO RELATÓRIO DA VIAGEM PARA ANAPU/PA PELO 7º ANIVERSÁRIO DO ASSASSINATO DA IRMÃ DOROTY STANG - NOS DIAS 11 a 14.02.2011



Dia 14 às 09h:(ANAPU) Celebração eucarística celebrada pelo Bispo Dom Erwin Krautler e coocelebrada por Padre Amaro e Padre Vicente.



(...) A tarde deu-se início aos debates e falas de apoio e solidariedade de Movimentos Sociais, entidades da região e dos que vieram de outros lugares mais distantes em caravanas e comitiva. Percebem-se a perseguição as famílias de trabalhadores rurais e, que o Estado pouco se preocupa com esta problemática. Para Padre Amaro a “Audiência Pública” em Anapu foi uma Bagunça Pública. O governo federal fala, decreta e promete solenemente em seminários e reuniões nacionais e internacionais a defender e proteger as florestas brasileiras, patrimônio da nação e da humanidade, mais o Estado continua defendendo o modelo econômico/latifúndio e dando as costas para os trabalhadores rurais.
A Agricultura familiar continua sendo perseguida pelo modelo do Agronegócio e as autoridades não tomam nenhuma providência, só fazem promessas.
O Movimento Xingu Vivo para Sempre reforçou que continua na luta em defesa da vida do Rio Xingu e contra a Hidrelétrica de Belo Monte. Falaram também do Ato Público em Brasília. A Paróquia de Anapu assumiu totalmente a luta contra a construção de Belo Monte.
Os Movimentos Sociais e Sindicatos caminham em tempos Difíceis, Exemplo disso o que está acontecendo em Anapu com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais hoje atrelados ao modelo de desenvolvimento econômico latifundiário e madeireiro. (...)

Revolta e Desabafo - Gabriela Pardim

Por que preciso me revoltar para falar que isto tudo não tem dono?
Que minha terra não tem fronteiras.
Ordenas o que ordenas. Decretas o que decreta.
Oprime. Reprime. Mutila. Mata. Assassina. Até enterra.
Não me pergunta. Nem a mim nem aos seus conselheiros.
Sentimental ou fiscal.
Por que ocupas?
Por que destrói.
Por que tiras meu sustento?
Se fosse só o meu! O meu e o do seu vizinho.
Seja ele rico ou pobre.
Por que me oprime? Te faz feliz?
Ou é apenas um sorriso sarcástico que vejo em seu semblante?
Não se ocupe com o que eu me preocupe,
mas se preocupe com que eu me ocupo.
Para fazer o que eu faço, pensar o que eu penso.
E até ser o que sou exige um pouco mais de integridade.
Pode parecer impetulância, mas é só um desabafo.
Não se preocupe com a carapuça, às vezes não é para você.
Documente meu momento de liberdade e ousadia.
Falo.
Escrevo.
Me expresso.
Me liberto.
Sem medo do ontem.
Sem nome ou codinome.

sábado, 20 de novembro de 2010

Ladainha dos Quilombos - Léo Lopes

Iê!
Nos ensinaram que o negro sempre foi humilhado
Que aceitou a escravidão, ora meu bem, de bom agrado...
Que esperou pela princesa pra libertá-lo dos grilhões
Nunca tendo força própria, nunca tendo opinião....

Tanta mentira, tanta farsa,
Pra apagar da consciência
Que liberdade não se ganha,
Não se mendiga esperança!

Viva a Capoeira Angola
Que nos faz abrir os olhos, manter viva a memória!
Das lutas dessa negada,
Dessa negada história!

Viva Conjuração Baiana, viva a Revolta dos Malês!
Canudos, a Cabanagem, Quilombos e quilombolas!
Viva o quilombo de Palmares, Maracanã, Macajubá
Buraco do Tatu, Xique-xique e Muritiba!
Quilombo Turiaçu, Preto Cosme, Campo Grande,
Brotas, Cafundó, Ambrósio e Caçandoquinha!
Viva o Quilombo de Campinas, Piracicaba e Atibaia
A Resistência segue viva
Em quem tá junto na batalha... Camarada...
A Resistência!
Iê! A resistência! Camarada!
Iê! Povo do Gueto!
Iê! Povo do gueto, camarada!
Iê! Periferia!
Iê! Periferia, camarada!
Iê! Da volta ao mundo!
Iê! Da volta ao mundo, camarada!
Iê! Que o mundo deu!
Iê! Que o mundo deu, camarada!
Iê! Que o mundo dá!
Iê! Que o mundo dá, camarada....

20 de novembro - Poeta LAVS

Fomos obrigados a sair
Nós saímos
E conquistamos o mundo
Fugimos
Mas fomos capturados
Corremos
E lutamos até hoje pela liberdade
Que foi tirada há muito tempo
Nosso povo foi escravizado
E quando acaba a escravidão

Continuamos escravizados pelos preconceitos
E muitas pessoas nos consideram ‘ladrões’
Isso é o preconceito
Que tentamos esquecer
E lutamos para que não exista
E consigamos viver em paz
Neste mundo dividido
por raças, crenças e religiões
Todos temos que viver em paz
E esquecermos o preconceito racial
e social que existe em nossos corações.

Neguinha Maluca - Rosângela Andorinha

Que maluquice
Esse seu olhar de jaboticaba madura!
Maluquice maior essas suas falas!
Sua maluquinha!

Ah! neguinha ...
"Tô veno" bem seu jeitinho ...
jeitinho maluquinho de ser
E tem que ser
maluquinha!
E tem que ser neguinha!

Ah! neguinha briguenta!

Briga mesmo, neguinha!
Briga por nós!
Por nossos filhos!
Por nossa cor,
pelo amor.
Sua maluquinha!
Minha neguinha!
Neguinha maluquinha!
Sem medo de ser feliz!


Homenagem à uma amiga

Sensibilidade - Lukinha



‘Eles fizeram de sua história alegria para o mundo’
Frase e desenho elaboradas por um adolescente em atividade de arte educação relacionada ao tema da Consciência Negra.


Lukinha
(Interno da Fundação Casa)

Nota de Escurecimento - de César Gomes*

* Rede Nacional de Negras e Negros LGBTT

Xs espertalhões arianxs sob interesses escusos vão sempre defender que no Brasil não há racismo enquanto negrxs e afrobrasileirxs que economicamente conseguiram um pseudo status de poder social comungão da mesma filosofia. Ambxs vão ofertar sorrisos amarelos para mascarar o desprezo e opressão cotidiana.
No campo das idéias há uma democracia racial forçadamente respeitosa. Basta cada um olhar para o seu entorno e perceber onde x negrx está colocadx; na base da pirâmide alvo constante principalmente das corporações fardadas (GMs e PMs) que já nem fazem questão de esconder sob sua ótica qual é o perfil dx "SUSPEITX" neste país: NEGRXS.
Oficialmente o governo assume que existe sim racismo no país quando cria a SEPPIR com status de ministério. Ora, se não há racismo não precisa de uma secretaria especial para combatê-lo, certo!?
O xis da questão é que a ciência faz uma nota de escurecimento: A vida se originou no continente africano, logo, o sangue africano se espalhou para outros continentes.
Com ou sem ministério não há mistério; por mais que queiram esclarecer estamos aqui para escurecer o país que ajudamos a construir.

De pernas pro ar - Josiane da Silva

O livro De pernas pro ar - Recontando a nossa História, faz parte do projeto “Pratique Capoeira”, tem como objetivo, difundir a capoeira junto à comunidade escolar. Totalmente ilustrado, o livro narra história da Capoeira para o público infantil.
Surgida nos tempos da escravidão, a arte que ganhou o mundo e hoje é praticada em mais de 150 países, a capoeira desenvolve nas crianças a coordenação motora, flexibilidade, ritmo e expressão corporal, com enfoque nas relações de amizade e respeito ao próximo.
O livro será utilizado para atividades em sala de aula, nas escolas de forma integrada com os educadores abordando aspectos físicos, históricos, culturais e de valores. O trabalho a ser desenvolvido em cada comunidade escolar propõe a realização de oficinas, palestras e a distribuição gratuita do livro “De Pernas pro Ar – Recontando a nossa história”.


Histórico do Quilombo Brotas - José Roberto Barbosa

“Pra tudo que tiver meu sangue terá um lugar pra morar.”
Isaac Modesto de Lima.




No século XIX as ações de quilombagem foram freqüentes em Itatiba. Há relatos inscritos de ações de índios e “negros fujões” que remontam a década de 40 daquele século. O lugar onde hoje vive a comunidade do Quilombo Brotas faz parte de um território maior (informalmente conhecido como “Bairro Brotas”) que na época servia como entreposto nas rotas de fugas da escravidão. Pessoas vindas de Jundiaí, Campinas, Vinhedo, Valinhos e do próprio município. Fala-se de um negro conhecido apenas como “Negro Brotas”, um comerciante português (proprietário do terreno) chamado Francisco José Rodrigues e sua esposa a índia Rita Rodrigues. Os três auxiliavam os negros. Alguns ficavam apenas um tempo outros permaneciam no local. Em 1882 houve uma tentativa frustrada, por parte do governo, da então província de acabar com o quilombo.
Em 1888 com o fim oficial da escravidão os antigos quilombolas se dispersarão e o então proprietário Juvenal Passos Rodrigues começou a vender a propriedade em pedaços. A parte da onde ficava o barracão onde viviam os quilombolas foi vendido a um casal de negros (que haviam conquistado sua liberdade antes da abolição) que aparentemente faziam parte das redes que auxiliam nas fugas de escravizados. Junto com seus filhos se mudaram para aquelas terras, levando cerca de sete anos para terminar se comprá-la. Além de o local servir de palco de diversas festas, muitas pessoas em situações difíceis foram auxiliadas pelos moradores da comunidade.
Atualmente muitos dos descendentes do casal ainda vivem na comunidade, compondo sua maioria. Mais de uma vez a comunidade viu seu direito a terra ameaçado. Na década de 50 houve necessidade de uma grande mobilização da família para não perder as terras por conta de impostos. Em um passado não tão remoto houve até quem tentou transformar o local em deposito de lixo hospitalar. Atualmente o quilombo Brotas é Conhecido como o primeiro quilombo urbano reconhecido.

Mucama do Cambuí - Larissa Lisboa

A Mucama do Cambuí
É tão branca que nunca vi
Tem dinheiro no bolso
Mas não quer repartir

A Mucama do Cambuí
Fingi que gosta de socializar
Está sempre pronta pra tagarelar
Mas vira a cara pro City Bar

A Mucama do Cambuí
Faz bronzeamento na Capital
Alisa o belo e se acha a tal
Mas fica tão feia que é de rir

A Mucama do Cambuí
Não é a mesma que a daqui...

Branqueou a avenida
Tentou sambar
Mas caiu do salto
Tombou na cor

A Mucama do Cambuí
Era tão negra que sempre vi
E mesmo sem dinheiro no bolso
Tinha sempre o que repartir

A Mucama do Cambuí
Não fingia socializar
Estava sempre pronta pra trabalhar
Lavando banheiro sujo do City Bar

A Mucama do Cambuí
Tinha um bronzeamento natural
Não escondia a raça e era cabal
Ficando tão bela que eu nunca vi

Mucama de hoje, te digo:
O Cambuí
já foi o Haiti
Mas hoje
Não tem mais saci
Tombou na cor

A mucama
de ontem
No hoje
Manca

E não produz?

Por detrás dos restaurantes
Nas cozinhas sujas
Nos banheiros usados
Limpando a merda
Que você mesmo produz!

Merda não, cocô!

Desculpe o jeito
Mas é o único perfeito
Pra gritar o meu desejo
De cuspir na sua cara
E sambar na madrugada

Mas a City Banda só toca de dia...
Aqui não é o Rio de Janeiro, esqueceu?

Ih, é mesmo!
Esqueci que exploraram o carnaval
E aqui o samba é seu rival

Vamos ouvir a sinfônica no Cambuí
E deixar de falar desse Zumbi!

Mas não é o mesmo repertório de todos os anos?

De ano em ano
a galinha enche o saco!

É papo!

Nele também cabe...

Não!
É a verba!
Releva!
Eles não são culpados
Todos devem ser coroados
Dentro da cultura brasileira!

Mas enquanto o rei leva a coroa
Seus súditos são coronhados
Marretas, armas e estiletes
Desgraça armada

Uma luta coletiva para manter um museu vivo e popular - Movimento MIS no Palácio

O Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS-Campinas) é um dos poucos espaços públicos da cidade em que ocorre apropriação direta da população. Os ciclos de cinema, mostras de vídeo, exposições de fotografia e audições musicais são realizados e organizados pelos próprios usuários. Além disso, no museu ainda ocorrem oficinas e cursos de Filosofia, cinema, fotografia e também a possibilidade de freqüentar um ateliê de pintura e laboratórios coletivos de artes corporais, teatro e dança, gratuitamente e sem burocracia.
O MIS fica no centro de Campinas, no Palácio dos Azulejos, um antigo e belo casarão, com arquitetura histórica, que pertenceu a um barão da cidade. Mas, pelo fato de ser uma construção antiga e, principalmente, por completa ausência de investimento por parte da prefeitura, está com seu acervo e sua estrutura bastante ameaçados. O prédio não teve seu restauro terminado e os muitos problemas, como portas danificadas pelo tempo e telhado com vazamento, estão ameaçando seu riquíssimo acervo musical, fotográfico, e audiovisual.
Como se tudo isso não bastasse, em agosto, tanto os funcionários do MIS, quanto os coletivos de artistas, freqüentadores, militantes e educadores foram pegos de surpresa por uma matéria no jornal, na qual se dizia que o MIS seria transferido para a Estação Cultura. O Palácio dos Azulejos, sob a falsa alegação de retomada do projeto do ex-prefeito Toninho, daria lugar a cerimoniais executivos da Prefeitura.
Imediatamente, para impedir que o MIS seja transferido, os vários grupos atuantes no MIS e simpatizantes se reuniram e começaram a mobilizar um grande movimento de luta, que é o “Movimento MIS no Palácio”. Até agora foram diversas reuniões, ações de intervenção (culturais, políticas, midiáticas) e quase duas mil assinaturas com abaixo-asssinados exigindo a permanência do MIS no Palácio que continua em circulação via net. Estivemos no comício do PT, antes do primeiro turno das eleições, no Largo do Rosário, com faixas de protesto e abaixo-assinados. Na manhã do sábado de 25/09, os coletivos que atuam no MIS, freqüentadores, artistas e militantes fizemos uma bela passeata pela rua 13 de maio ao som dos tambores de Maracatu dos grupos Maracatucá e da Escola de Capoeira Angola Resistência. A passeata terminou no MIS e, pela tarde foram realizadas várias oficinas artísticas e culturais, em que muitas pessoas puderam conviver e aprender um pouco mais sobre cinema, quadrinhos, fotografia e pintura, no evento que durou a tarde inteira nas salas do Museu. No dia seguinte, saiu uma matéria no jornal Correio Popular sobre a passeata.
Recentemente, em outubro, o movimento participou da reunião do Fórum Municipal de Cultura, com a presença do diretor de cultura de Campinas, Vinicius Gratti.
Os integrantes do Movimento MIS no Palácio eram quase a metade dos presentes e foram os únicos a levar propostas organizadas, com um documento escrito que abrangia não apenas seus interesses, mas também os da cultura de Campinas como um todo, exigindo, por exemplo, que seja descriminalizada a manifestação artística nos locais públicos de Campinas. Nesta reunião, o diretor de Cultura de Campinas respondeu aos questionamentos do Movimento e disse que o MIS não sairá do Palácio dos Azulejos. Apesar da declaração, inclusive registrada em vídeo, o Movimento continua aguardando uma resposta do prefeito Hélio e solicitou uma audiência pública com ele e o secretário de cultura.
As intervenções e propostas do Movimento MIS no Palácio têm o objetivo de manter o MIS no Palácio dos Azulejos, buscar investimentos para a sua reforma estrutural, abrir vias para uma dotação orçamentária mais ampla, para que o museu possa desenvolver de maneira mais satisfatória todo o seu potencial artístico e cultural, mantendo a sua característica de gestão popular e democrática, além de unir forças com outros grupos culturais para reavivar a movimentação cultural e artística de Campinas como um todo. Porque cultura não é só arraial, natal e carnaval, é política cultural através do fortalecimento dos espaços permanentes de formação e de trocas.

Quem quiser apoiar este movimento, pode assinar o abaixo assinado pelo site www.miscampinas.com.br e vir propôr atividades culturais-artísticas no MIS.

Aborto - João da Silva

Arte Negra - Jesus Barbosa




Agradecimentos da Articulação





O jornal comunitário A VOZ DO GUETO nasceu com o objetivo de oferecer oportunidades de falar e de ser ouvido.
A proposta veio para ficar junto à comunidade da cultura popular que pouco tem seu espaço, como foi dito de maneira poética na primeira edição. A semente que foi plantada em 2008, começou a dar seu primeiro brotinho em 2010, com o patrocínio da Escola de Capoeira Angola Resistência, que financiou na sua simplicidade de ser, as duas primeiras publicações. Agradecemos ao Contra-Mestre Topete, que acreditou na idéia, oferecendo as condições materiais para a iniciativa dar seus primeiros passos.

Gabriela Pardim




terça-feira, 3 de agosto de 2010

Editorial - Léo Lopes

Após um longo período de gestação...
Eis aqui a realização de um pequeno grande sonho.
A VOZ DO GUETO!!!
Pensamentos, sentimentos, expressões!!!
Enfim, um veiculo de comunicação popular, aberto à todos aqueles e aquelas que desejem expressar seus sentimentos, pensamentos, reflexões, traços, desenhos, fotografias, versos...
Fazer ecoar as vozes que não se ouvem nos jornais, nos programas de tv, na comunicação oficial da grande mídia. Fazer ecoar as vozes do Gueto!
Um espaço reservado à todos e todas que acreditam na liberdade e na igualdade de oportunidades para a comunicação livre das forças da vida. Uma forma de luta pela construção de uma união cada vez maior entre as pessoas e grupos que acreditem que é possível um mundo mais belo. Livre de opressão, preconceito e discriminação racial, social, sexual, cultural.
Um mundo onde caibam todos os mundos!!!
Onde possamos ser quem somos, sem que tenhamos que nos padronizar segundo as normas estabelecidas sobre como se vestir, falar, comer, pensar...
A semente está lançada, então, que ecoem as vozes do gueto!
Uma boa leitura e até a próxima!●

Breve Histórico do Terminal Central de Campinas - Gabriela Pardim

Desde o inicio do século XX, Campinas passou por muitas modificações arquitetônicas, principalmente na sua região central. Na época em que essas mudanças foram realizadas, engenheiros não se preocupavam com a preservação da região, assim a cidade que foi projetada para exportação cafeeira, com trens, no inicio do século XX, teve mais de 300 prédios demolidos, para dar passagem à “era do automóvel”. Com a consolidação do Plano Prestes Maia, na década de 20, não havia questionamento para a preservação de patrimônios históricos de Campinas, por isso existem poucas construções tombadas: a intenção do plano era “trocar o velho pelo novo”, sem pensar nas conseqüências.
A construção de edifícios públicos e o alargamento de avenidas paralelas aos eixos comerciais (Avenidas Francisco Glicério e Campos Salles) foram as primeiras transformações realizadas na região central de Campinas. Após a ampliação da área central, os terrenos ficaram mais baratos, devido às irregularidades de alinhamentos encontradas nas vias, assim em 1953, houve uma proliferação de loteamentos na região. No mesmo ano, houve uma alteração no Plano de Melhoramentos Urbanos da cidade exigindo reserva de áreas livres, e outra em 1957, delegando a execução de infra-estruturas de redes de água e esgoto. A partir de 1954, iniciou-se o crescimento da cidade na vertical, assim antigos casarões do período colonial foram substituídos por edifícios.
Antes da construção do viaduto, havia uma passagem do Centro de Campinas para a Vila Industrial, sendo está passagem veio substituir a Porteira da Capivara. Ela era estreita e passava uma fileira de automóvel de cada vez, tendo um guarda de controlador.
O viaduto Miguel Vicente Cury foi idealizado para criar um elo entre a entrada da cidade de Campinas pela Prestes Maia e a região central, dando acesso à cidade pela Avenida Moraes Salles. “Todos os eixos seriam fecundados e a cidade aumentaria circularmente” [PASCHOALIN e BODSTEIN]. Sua construção iniciou-se em 1961, e em 1963, foi inaugurado.
Desconhecido pelas novas gerações, no meio do viaduto, havia uma área verde, o “Lago dos Cisnes” um dos cartões postais da cidade nos anos de 1970, exibindo um cenário que parecia um oásis com “aves que se divertiam no espelho d'água entre os canteiros e as árvores frondosas” com um relógio de sol, um lugar de lazer para todas as faixas etárias.
A temática da praça foi inspirada na produção teatral mundial “Lago dos Cisnes”, recordando o ar aristocrático do tempo dos barões de café preservado na primeira metade do século na cidade, em pleno processo de industrialização. Mas o glamour sugerido pela peça, não conseguiu se manter, e em 1983, o jardim foi substituído pelo atual terminal de ônibus na gestão de Magalhães Teixeira. Nada foi argumentado contra o fim da praça, que se encontrava abandonada, sem manutenção e violenta.
O terminal traz desde seus primórdios, o des caso dos governantes. Pensaram no crescimento industrial da cidade, e onde havia “portas” abriram rodovias e onde havia “janelas” abriram avenidas transformando-a no que vimos hoje. A região central da cidade sofreu um descaso com sua história, hoje, pouco encontra-se “como tudo começou...“. No meio das “portas e janelas” havia um grande parque arborizado de lazer, e novamente o descuido se fez presente, e como era mais fácil construir do que dar manutenções, novamente às entidades de poder colocaram no lugar de um parque sujo, um terminal de ônibus de metal e concreto.●

Mestre Pastinha - Léo Lopes

Cerca de onze meses após a oficial abolição da escravatura e sete meses antes da proclamação da República no Brasil... Em 5 abril de 1.889 a cidade de Salvador/BA, amanheceu mais bonita, naquele céu de outono cintilaram as estrelas em saudação: nascia Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha!Filho de Raimunda dos Santos, uma mulher negra de Santo Amaro da Purificação e de José Señor Pastinha, um pequeno comerciante de origem espanhola. Menino franzino e pequenino quando contava com seus dez anos de idade, vivia apanhando de um garoto que morava no caminho da venda onde tinha que buscar coisas para sua mãe todos os dias. Certo dia quando voltava chorando para casa foi abordado por Benedito, um velho africano que lhe disse:



"Ocê qué enfrentá esse menino na raça, mas não pode.
Esse menino é mais ativo que ocê!
O tempo que ocê vai pra rua empina arraia, vem aqui pro meu cazuá que vou lhe ensina uma coisa de muita valia."




E assim deu-se inicio o aprendizado deste que veio a se tornar um dos maiores mestres da história da Capoeira. Reponsável por um projeto de organização, preservação e difusão da Capoeira Mãe, a Capoeira Angola. Num tempo onde esta era considerada um crime pela sociedade ele alçou a bandeira da dignidade da Capoeira, como cultura, como arte, terapia, esporte, defesa pessoal e caminho para o aprimoramento dos valores humanitários essenciais a vida social como a cooperação, o respeito mútuo e a solidariedade.


A este projeto deu o nome de Centro Esportivo de Capoeira Angola o qual mesmo depois de seu falecimento em 13 de novembro de 1.981, continuou e continua sendo uma realidade pelas mãos de Mestre João Pequeno de Pastinha. O mais velho capoeirista em atividade no mundo que aos seus noventa e um anos de idade persevera e difunde através de seus discípulos a riqueza desta arte.


Mestre Pastinha foi muito mais que um mero praticante de Capoeira, ele transcendeu o veio das possibilidades, foi um pensador, um filósofo da cultura popular do Brasil. Na menina de seus olhos uma visão distinta:




"A capoeira é amorosa, não é perversa.
A Capoeira é um costume como outro qualquer,
Um hábito cortês que criamos dentro de nós..».

Percepções Angoleiras - Alexandra Araújo









Formigueiro da Amargura - Bia Taturana

“Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca,
sorri seus dentes de chumbo.
Solidão, palavra
Cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão.
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão”
(Paulinho da Viola – Dança da Solidão).



Durante o intervalo de nove segundos que Paulo esperava o metrô, o estudante de medicina analisa as situações diárias que observa dentro e fora do hospital. Com vinte e sete anos, Paulo não enxerga mais expectativas. Depois que passou a ter contato com os casos que lhe rodeia dez horas por dia nos plantões do hospital que completa sua residência, a sensibilidade de Paulo aumentou para com o modo no qual as pessoas conduziam suas vidas. Diariamente eram os mesmos sintomas: doenças respiratórias, infartos, aneurismas, dentre outras enfermidades que eram padronizadas pelos pacientes que circulavam pelo hospital. Algo havia de errado.
_ A senhora fuma?
_ Sim.
_ Humm. Quantos cigarros por dia?
_ Dois maços.
_ Não é muito?
_ Ah doutor, eu sou muito nervosa. Eu acordo às 5 da manhã, tomo o primeiro ônibus lá perto de casa, o ônibus bufando de gente durante duas horas e quarenta e cinco minutos pra atravessar até metade do caminho pro meu serviço. Depois, mais uma hora de van pra ta no serviço às 9. Saio às 20 horas do serviço, faço mais uma vez esse caminho, nem vejo direito meus filhos, vou pra cama morrendo de cansaço. Se eu não fumar meu cigarrinho, fico louca!
_Sei. E a senhora se alimenta direito?
_ Ah doutor, naquelas... eu tomo um café bem forte antes de sair de casa, que eu deixo pronto antes de me deitar. Eu precisava levar marmita de casa, mas não tenho coragem de preparar comida, tamanho o cansaço, então eu almoço dois salgado e um copo de refrigerante no serviço. Já acostumei. Meus filhos, graças a Deus, almoçam na escola lá do bairro. Eu sei que eu deveria me esforçar mais doutor, não por mim, mas pelos meus dois filhos, mas eu sou uma só doutor, fico morta de cansaço.
_ Você já tentou arrumar outro emprego?
_ Hahaha, não me faça rir doutor! Você acha que uma pessoa com a minha idade, sem estudo, semi-analfabeta, consegue emprego assim fácil? Emprego fácil ta assim pra vocês que têm diploma, é jovem, bonito. Gente velha, feia e ignorante o mercado gospe e pisa em cima.
_ Bom, nesse caso eu vou te passar esse antibiótico, mas você tem que tomá-lo após as refeições. É só retirá-lo no balcão.
_ Obrigada doutor.
Achava seu serviço uma indecência. Desde jovem queria exercer a profissão de médico, clínico geral. Filho da classe média trabalhadora católica, queria ser útil para alguma coisa nesse mundo. Diante desses diálogos que percorriam o seu cotidiano durante o trabalho, percebera a sua inutilidade diante à saúde do próximo, o que entendia ser completamente paradoxal, uma vez que as pessoas lhe confiavam suas vidas, era ele quem havia estudado anos para adquirir as informações exatas para solucionar aquelas doenças. Casos simples de serem resolvidos a partir de uma única forma: os pacientes teriam de mudar suas rotinas.
Era a única certeza que Paulo carregava dentro de si. Para que as pessoas solucionem suas enfermidades, é necessário que elas modifiquem seu cotidiano. Trabalhem menos, principalmente aquelas que exerciam funções repetitivas – a grande maioria – pratiquem atividades físicas que mais lhes agradassem para a liberação de serotonina e alimentação balenceada: cereais, legumes, frutas, verduras e alguma proteína animal. A receita era simples, mas como exercê-la diante de um cotidiano tão opressor? Para garantir todas essas necessidades básicas, a população era obrigada a se submeter a estas situações diárias, e ainda assim não garantiam o básico. Sentia-se podre por dentro, por darem tanto valor à sua profissão de merda, e se encontrar inerte diante dessas situações; além da certeza de se encontrar também enclausurado pelo sistema, já que a única coisa que lhe restava era contribuir para o enriquecimento das monstruosas farmacêuticas ao viciar as pessoas em drogas pesadas apenas para amenizar o problema, e não curá-lo.
Há meses que Paulo já não encontra mais estímulo. Tais situações lhe ocasionaram uma crise de depressão profunda, mas nem percebeu seu próprio problema, tal qual o restante da população. Minutos antes, se encontrava no interior do vagão com a mesma fisionomia dos demais: inexpressivos, movidos mecanicamente devido a mesma via sacra diária. Ao esperar o próximo trem na estação que faria baldiação para retornar ao serviço, num surto que o libertou do mecanismo medíocre que refletia naquele instante, Paulo se jogou na linha do metrô no momento em que o trem chegava para conduzir as formigas operárias paulistanas a seus postos, responsáveis na manutenção do vasto império presente na Avenida Paulista a na maior frota de helicópteros do mundo.
O suicídio de Paulo foi um bafafá na cidade, mas durou pouco tempo. Mesmo a imprensa mais sensacionalista foi terminantemente proibida de apresentar o caso aos seus telespectadores, devido a uma ética em omitir índices de suicídio – prevenção de surtos coletivos; ou gerar a ruína deste modelo de sociedade estratificada. Como não foi noticiado em lugar algum, os boatos logo cessaram, e Paulo se tornou mais um desses índices que fora arquivado, e obrigatoriamente esquecido.

As Aventuras de Latínia - Marta Alves

Esta é a estória de Latínia, uma latinha de molho de tomate muito graciosa que vivia feliz ao lado de muitas coleguinhas numa prateleira de um grande supermercado.

Todas as manhãs um funcionário da loja passava arrumando as prateleiras para que tudo ficasse limpinho e em ordem para que as pessoas pudessem ter uma boa visão dos produtos.O que ninguém desconfiava era a movimentação que as latinhas faziam toda noite quando a loja estava totalmente vazia; elas saíam de seus lugares e iam dar uma voltinha, conversar com as colegas em outras prateleiras e saber das novidades.Pouco antes do raiar do dia todas corriam para seus lugares e lá ficavam como se nada tivesse acontecido, se bem que de vez em quando acontece de uma latinha de molho de tomate perder a hora e ter de ficar bem quietinha no meio das latas de ervilha ou milho verde por exemplo, esperando que alguém as leve para junto de suas colegas.

Ultimamente Latínia tem andado um pouco triste e preocupada com os comentários que tem ouvido pelos corredores; as pessoas não percebem mas ela está bem atenta ao que andam dizendo sobre meio ambiente, poluição, reciclagem.Ela que sempre foi tão orgulhosa de sua bela aparência começou a se questionar sobre qual seria a sua finalidade depois que seu companheiro, o molho de tomate fosse embora, porque ela sabia que isso iria acontecer um dia.

Latínia que sempre foi uma latinha alegre e companheira começou a se isolar das amigas, a se esconder no fundo da prateleira com medo que algum cliente a levasse para casa. Suas amigas não entendiam, pois justo ela que vivia dizendo que não via a hora de sair daquele supermercado para se aventurar por novos lugares e ficava com inveja quando via outras latinhas no carrinho de compras de alguém, fazia mil planos para quando chegasse a sua vez.!

Agora passava as horas pensativa, cabisbaixa, se perguntando o que seria dela no futuro; ela definitivamente não queria fazer mal nenhum a natureza pois isso seria um fim muito triste para qualquer um.

Certa noite Latínia saiu de seu corredor e distraidamente foi caminhando pela loja, quando percebeu já estava no corredor onde ficavam as garrafas de plástico, que segundo diziam não eram muito boa companhia, estavam com a reputação bem abalada...

Meio desconfiada, Latínia ficou meio escondia num canto para melhor observar aquele que era um corredor proibido...Foi então que ela notou um grupinho que conversava animadamente, olhou melhor e viu que faziam parte do grupo: garrafas plásticas, vidros, caixas de papelão, todos muito felizes pois tinham acabado de descobrir que poderiam ser reciclados. RECICLADOS!?! Mas o que é isso? Gritou Latínia, deve ser uma coisa boa pois todos sorriam muito...

Nisso uma garrafa plástica chamou Latínia e começou a explicar o significado daquela nova palavra que causara tanto espanto a todos.

Latínia logo percebeu que a líder do grupo era a garrafa plástica, pois essa era muito falante e segura de si, seu nome era Pet Lola e todos a ouviam com muita atenção.

-Companheiros eu na qualidade de líder desse grupo quero dizer que a situação do planeta está ficando muito perigosa e eu não quero ser a vilã dessa estória, cansei de ouvir e ver imagens horríveis de milhares de companheiras atiradas nos rios, lagos e lagoas causando a destruição e morte dos seres que ali habitam, transformando lindos lugares em paisagens mortas.Por isso convoco a todos: papel, metal, plásticos, vamos nos unir em defesa de nossa reputação!

Nisso Latínia que até então permanecia ouvindo, criou coragem e gritou;

_Hei, mas nós não temos culpa, culpados são os humanos que nos transformam em monstros diante da natureza, e desconfio que vai ser muito difícil mudar o comportamento dessa gente, pois cada dia que passa eles se comportam pior e ainda se dizem racionais...

Nisso uma caixa de papelão que estava atenta a tudo falou;

_Pequena lata, não seja tão pessimista, nós já temos um plano para salvar o planeta...

_Que plano é esse perguntou Latínia

_Estamos convocando um exército de seres especiais, com super poderes de transformação e temos plena certeza que com informação e educação este exército irá tomar conta dessa tarefa e trará de volta a vida e saúde para a terra.

Latínia se espantou;

_Nossa que exército é esse? Vem de outro planeta?

_Não!!! Respondeu Pet Lola...São as crianças, o poder está com elas!

_Ufa que alívio! Respondeu Latinia, agora posso acreditar num futuro legal!

Nisso os primeiros raios de sol começaram a entrar pelas janelas da loja fazendo com que o grupo se despedisse e fosse cada qual para a sua prateleira.Claro que a noite eles voltariam a se encontrar para traçar os planos de ação.

Ao se despedir Pet Lola ainda falou:

_Companheiros, a tarefa não é das mais fáceis, mas com nossos novos aliados e seus super poderes o futuro da natureza está garantido!!.